Até O Fim


  Difícil olhar no espelho e enxergar-me em algo além de algumas verdades indecentes. Somos o reflexo do passado, não lutamos, não guerreamos, não dançamos valsa ao som de uma banda real ou resgatamos princesas de castelos em chamas. Não entramos para os livros de história, nem ao menos retratamos nosso analfabetismo social e mania constante de reclamar de tudo.
  Eu poderia ter sido muitas coisas em toda a minha vida. Poderia ter sido presidente, ou ser o responsável por um tiro em sua cabeça durante uma comemoração. Poderia pregar o patriotismo ao mundo, e fazê-los pensar que a morte, quando vinda com uma medalha de honra ao mérito, é completamente confortante às famílias que caem aos prantos pelo soldado que nunca retornou da guerra. É uma guerra! Eu poderia crucificar meus inimigos como um imperador louco, ou até mesmo escravizar, torturar e punir meus "inferiores"como um Führer descontrolado.
  Poderia ter sido líder da maior banda de todos os tempos. Eu, com barba longa e cartazes de paz, poderia acabar com a guerra... Ou ser morto à tiros por um fã na frente de um grande prédio de luxo. Poderia ser pequeno como um átomo ou massivo como o nosso Sol. Eu poderia ter sido deus, ou o próprio diabo. Estrondoso como um furacão, potente e destrutivo. Filho do Átomo e do Carbono, como um grande pensador pré-modernista. Teria sido um filósofo, um poeta, um revolucionário. Poderia ter sido eu o homem que teorizou a Origem das Espécies... Ou ter sido eu, do Homo ergaster ao sapiens, sobrevivendo e evoluindo. E poderia ter pintado o goticismo, surrealista em Igrejas católicas de um passado remoto e iluminado.
  Sombrio, valente como um Espartano. Teria sido eu à derrotar o Minotauro, mas também teria o criado para meu interesse e propósito. Seria o ódio, o amor, a controversa psicologia do ser. Poderia saber o que querem as mulheres, ou cientificar completamente culturas e religiões ao redor do mundo. Seria eu, o verme, a chagas, a lepra, o vírus. O encontro de uma geração, sangue raro, intransferível, família real e hereditária.
  Pudera eu descobrir novos mundos, encontrar novos elementos, até então desconhecidos. Assim, fugiria da desilusão de meu ser neste planeta, fugiria do amor e do ódio, me lançaria ao espaço. Criaria minha própria medição de espaço, tempo e distância. Sem contas, por favor. E, se houvesse alguém ao meu lado, agradeceria a cada dia... Até que meu egoísmo consumisse tudo o que julgava-se amor.
  Poderia ser colosso de pedra, um dos deuses do Olimpo, ou semideus. Simples humano, vítima da moda, do saber, do estupro social. Anarquista revolucionário, um beberrão reclamador, ou apenas uma criança almejando os seios de uma mãe. O capitalista ganancioso, o socialista corrompido com o poder. A utopia cravada em meus ossos, como uma tatuagem cortada à faca, expondo meus órgãos. Eu seria a tecnologia, e o suicídio social... O céu e o inferno, a trincheira mortal e enganadora, como um mágico tirando um coelho da cartola. Tão clichê quanto ditados populares ou palavras proferidas apenas para conseguir uma transa. O pecado carnal, e todos os outros transcritos na Bíblia. O sagrado, o divino, incontestável e absoluto.
  Seria o padre pedófilo e o ateu assassino, toda a generalização preconceituosa e imunda que está exposta. Aos meus filhos, netos, bisnetos. Serei, pai, avô, bisavô. O soldado perfeito, moldado como um robô, programado para envelhecer e morrer só. Sim, seria eu... O tudo, o nada... O muito e o pouco... Contraditório poético, disposto a amar mas não a se arriscar pelo amor. Em minha insensata autobiografia. Lida por poucos, entendida por ninguém. Um delinquente incompreendido, conformado em não compreender, nem tento mais. Evoluindo à decadência e  ascensão. Eu sou história... O elétron e o nêutron, a galáxia, a supernova, o Universo... A química orgânica e inorgânica... O sangue ABO... Negativo, positivo... A besta do Apocalipse... Os números primos... As teorias conspiratórias... Sou o que a ciência não explica, e as mentiras contadas para o bem de todos.
  Sou amor, sou amante... Olhando aos olhos atentos de garotas alheias. Os olhos piscam e não se vê. Em tudo há um porquê, uma conclusão, o propósito em buscar entender as palavras. Do Inglês ao Latim. Dos sentimentos, ditos de coração, mas concebidos pela mente. Estou tentando entender. por quê eu, com tantos pensamentos ditados em uma simples caminhada até a escola... Ainda penso em apenas uma pessoa. Talvez seja eu, todos nós humanos, grandes pensadores desconhecidos, vítimas das flechas cegas de um cupido inconsequente. 
Serei amor, serei amante, até o fim.

Ao som de:
Secret Door - Arctic Monkeys
Crying Lightning - Arctic Monkeys
I've Just Seen a Face - The Beatles
Onde Está - Fresno
Bullet With Butterfly Wings - The Smashing Pumpkins
The Phoenix - Fall Out Boy 
Here, There and Everywhere - The Beatles
Resistance - Muse

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